sutilezas do existir

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monografia

UM CASO DE PARANORMALIDADE SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA JUNGUIANA

2. INTERPRETAÇÕES PARA O REINO PSIQUICO

 

Neste capítulo, encontraremos respostas às inúmeras indagações relacionadas ao existir do ser humano. E, igualmente ter a oportunidade de investigar e compreender de que forma um ser pensante, enquanto realidade psicofísica conecta-se com o Absoluto. Entender, sobremaneira, a sua relação com a religiosidade, as antigas civilizações, a linguagem simbólica do reino psíquico, concepções filosóficas da Grécia Antiga, a psicologia de profundidade e com outros conceitos científicos do mundo contemporâneo.

 

Conexões do Psiquismo Humano com o Absoluto 

 

O filósofo Raja Marausha (1983), criador da Filosofia da Esperança[11], sugere, em suas teorias sobre o comportamento humano, formatar a mente, a fim de torná-la hábil ao direcionamento de um olhar interior. De acordo com as suas concepções, esta formatação só é contemplada, com o exercício da meditação, um procedimento individual, sutil, altamente introspectivo e empreendedor. Em seu livro de salmos o filósofo aconselha, o gosto pela prática sutil. Sugere, inclusive, exercitá-la como ferramenta básica para desenvolver o hábito de se conectar com o Absoluto (Deus). Visto que somente através destas formas/pensamento a mente humana é estimulada a agir de modo positivo, até expressar a firmeza dos pensamentos que ela precisa ter para comandar os projetos do ‘existir’.

 

A postura do ser humano no ato da meditação é a de buscar um ‘olhar interior’ e enriquecedor com seu corpo sutil, a fim de atingir objetivos propostos com base na sabedoria do amor Divino. Enquanto este ‘ser’ estabelece com Ele uma profunda comunicação com a sua alma. Uma mente sadia e livre de pensamentos nocivos tende funcionar como a luz transcendental que ilumina a escuridão das trevas. O que nos eleva à concepção daquilo que é necessário fazer para galgar os caminhos misteriosos do Cosmo. Por outro lado, esta postura nos coloca direto com a sintonia do Eu Interior até encontrar o bem estar perdido para fazer deste momento um trampolim às novas conquistas. 

 

As concepções em pauta evidenciaram que esse poder sutil é uma ferramenta básica, para o ser humano transpor todos os obstáculos da vida. Como observa (MARAUSHA, 1983, p.48), dentro da sua visão pelas coisas do sagrado: “o nosso poder tem a força cósmica de todas as galáxias”.

                                   

Este filósofo costuma pontuar em seus escritos que é necessário querer “ser” para vivenciar um poder mental que está latente em cada um de nós. Entretanto, na maioria das vezes, costuma ser negligenciado a cada passo do ‘existir’, até por questões da ignorância de alguns mortais do planeta Terra. É tanto que Marausha sugere em seus textos espirituais e ecumênicos, praticar mensagens positivas que exerçam sobre nós, sintonias de profundo poder vibracional, principalmente nos momentos de reflexões, para reportar-se ao seu valor individual intrínseco, na conquista dos ideais e planos de vida.

 

Em seu livro[12] de salmos, este mestre recomenda que, ao idealizar um projeto de vida, o ser humano deve concebê-lo como verdadeiro. Nesse pensar positivo tudo passa a fluir ordenadamente, de modo próspero e harmônico. E de conformidade com as suas concepções, essas ações criativas têm um grande poder mental na transposição dos obstáculos da vida de um ‘ser pensante’, a fim de contemplar o seu ideal no processo do seu caminhar. 

 

No Novo Testamento o próprio Jesus rezava os salmos diariamente com os seus discípulos para conferir a sua poderosa eficácia nas ações dos projetos das suas vidas e do povo de Israel. A reunião da descrição de todos estes salmos é encontrada sob a forma de poesias e orações, e se resumem inteligentemente nessa sentença como uma obra do Divino. “São orações que nos conscientizam e engajam, na luta dentro dos conflitos sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou alienação” (ÊXODOS, 2001, p.8).       

 

As composições dos salmos e das orações mostram a história e a profecia que penetram na vida de um povo. Por sua vez, estes mesmos salmos, ao serem transformados em orações pensadas e refletidas, tornam-se os ditames que regem o existir de uma coletividade. O filósofo adverte: quando formos orar é necessário entrar no nosso aposento e fechar a porta para nos conectar com o Cosmo.

 

Ele ainda se expressa: “Os salmos inspiram realmente a imagem de um Deus verdadeiro e quando esse sentir divino é internalizado em nós, se coloca como um aliado do nosso ser. E conosco, passa a construir a vida e o existir humano” (MARAUSHA, 1983, p.6). Segundo os seus ensinamentos, o autor ainda concebe em seus textos: “O reino de Deus está dentro de vós, dentro de cada um [...] Toda realização de um projeto nasce de um sonho que é uma verdadeira semente que poderá igualmente se transformar futuramente no gigantesco carvalho” (MARAUSHA, 1983, p.76).

 

Segundo o físico Kalervo Laurikainen (apud CAMPOS, 2008, p.2), “Deus é a base transcendental do ser e do tornar-se. A única realidade presente de Deus é o espírito, é energia. A noção de Deus é o espírito e como energia é fundamental ao ser humano, pois é a parte pela qual temos comunhão com o Poder Absoluto. Indubitavelmente é o elemento da consciência de Deus.

 

Nesta concepção sagrada, o físico enfatiza que esta realidade tridimensional e espiritual, é a imagem de Deus, e tudo está contido neste reino de natureza onipresente e transcendental, onde influenciam as experiências racionas e irracionais de um ser. Entende-se, desta forma, que o ser humano é um ser criado à imagem e semelhança de Deus. Fica compreendido porque esta afirmação sobre a origem da criação tem sido um tema bastante discutido, nos meios acadêmicos e instituições religiosas, por conta dos seus significados no processo do ‘existir. ’

 

Voltando aos escritos bíblicos, percebemos que a narrativa da criação do mundo não é uma documentação científica, é apenas um poema que contempla o Universo como criação de Deus, que remonta o período 586-53 a.C. Nesses documentos, os sacerdotes exilados na Babilônia pontuam a existência de um Deus vivo único, criador do céu e da terra. Afirmam que a natureza não é povoada por outras divindades e que também não é divina. A tese fundamental dos sacerdotes, sobre a origem do mundo, tem como ponto mais alto da criação a humanidade, o homem e a mulher. Eles são criados à imagem e semelhança de Deus e que a humanidade é chamada a transformar e dominar o Universo nas suas tarefas, como o trabalho e o descanso.

  

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra [...] Que exista a Luz! E a luz começou a existir [...] E Deus separou a luz das trevas: à luz, Deus chamou dia e às trevas chamou noite. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia [...] que exista um firmamento no meio das águas para separar águas de águas [...] fez o firmamento para separar as águas que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento [...] E Deus chamou ao firmamento céu (GÊNESIS, 1981, p.14).

 

Neale Donald Walsch (2002, p.76) referindo-se ao Deus do Universo e ao ser humano se expressa: “Deus fala com todo mundo. Com os bons e com os maus. Com os santos e com os canalhas. Certamente, com todos nós e consequentemente com toda a humanidade. Quando o discípulo estiver pronto, o mestre aparecerá”.

 

Para Clarinha tudo neste Universo, fica bem mais evidente quando passamos a conversar com Deus ou com o Poder Absoluto ou em qualquer denominação. Portanto é fundamental que haja uma integração do “elo umbilical” com o Cosmo. Este “elo” refere-se ao “cordão de prata”, um filamento fluídico que conduz a energia do corpo físico para outras dimensões, quando em conexão com o mundo extra-fisico (ALLAN KARDEC, 2005). 

 

Neste pensar sutil, o filósofo Marausha continua advertindo em seus escritos: “Lidamos direto com Deus. Nossa alma é um transmissor-receptor que tem ligação direta com o Cosmo e que sintoniza também com o Grande Mestre Jesus Cristo[13], nosso Salvador na terra”(MARAUSHA, 1983, p.76).Como parte integrante deste processo, transcrevemos na íntegra um pensamento de Jung quando o tema é sutilezas.

 

Seria uma blasfêmia afirmar que Deus pode manifestar-se em toda parte menos na alma humana. Com efeito, a grande intimidade de relação entre Deus e a alma exclui automaticamente toda depreciação desta última. Sem dúvida, falar de afinidade é um exagero; mas de qualquer modo a alma deve possuir em si mesma uma faculdade de relação, isto é, uma correspondência com a essência Deus; senão como seria possível o estabelecimento de uma relação? Essa correspondência em termos psicológicos é o arquétipo da imagem de Deus (JUNG, 2006, p.481).

 

E, ainda se refere à natureza da alma expresando-se assim: era “[...] infinitamente complicada e de uma diversidade ilimitada, impossível de ser apreendida por uma simples psicologia dos instintos” (JUNG, 2006, p.481-482).

  

A alma humana é cheia de mistérios e é por excelência uma detentora de diversidades ilimitadas, e compartilha conosco com todas as suas miríades. De acordo com Humberto Sobral (1999, p.50), a alma é “a condensação molecular de fluido cósmico, cuja incubação, na própria alma, gera impulso indutivo-dedutivo, na consubstanciação do conceito divino, de que ela é a imagem e semelhança de seu Criador”. E ela pode “desprender-se quando se sinta atraída para lugar diferente daquele onde se acha o seu corpo” (Ibid., p.18). 

 

De qualquer modo, compreende-se que a alma é um transmissor-receptor para uma ligação direta com o Cosmo no intuito de sintonizar com o Absoluto. Por sua vez, o ser humano, na tentativa de sintonizar com ‘Ele’, criou sistemas de pensamentos e práticas para estes fins. Tudo isto resultou no ‘aparecimento das religiões’.

 

De conformidade com essas concepções científicas e religiosas sobre a alma humana, torna-se imperativo definir alguns conceitos de religião. Para maiores esclarecimentos sobre o tema em pauta Jung entendia o termo religião como religio e religare. [...] “a religião exatamente com a função de ligar o consciente a fatores inconscientes importantes”. (JUNG, 1997, p.57 apud ALINE ARAUJO, 2009, p.1).  

    

De acordo com a definição do conceito religioso, concebe-se que este fenômeno tem sido uma das bases fundamentais para os diversos seguimentos da existência humana, como se observa:

 

“As organizações ou sistemas são simbolismo que capacitam o homem a estabelecer uma posição espiritual que se contrapõe à natureza instintiva original, uma atitude cultural em face da mera instintividade. Esta tem sido a função de todas as religiões” (JUNG, 1997, p.17 apud ARAUJO, 2009, p.1). 

 

Segundo Marausha (1983), há quase 2.000 anos atrás foi o próprio Jesus que lançou à humanidade uma Religião Interior. Uma herança divina cujo sentimento está internalizado em cada um de nós.

 

Jung pontuou que, a função de ligação do consciente a fatores inconscientes são conteúdos considerados de suma importância no interagir humano. Na sua concepção pelas ‘coisas sagradas’ é a libido que constrói as imagens religiosas e representa o ponto de ligação do ser humano às suas origens. E enfatiza:

 

Encaro a religião como uma atitude do espírito humano, atitude que de acordo com o emprego originário do termo ‘religio’ poderíamos qualificar o modo de uma consideração e observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos como ‘potenciais’: espíritos, demônios, leis, idéias, ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores: dentro do seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia mostrada suficientemente poderosa, perigosa ou mesmo útil [...] (JUNG, 1997, p.10 apud ARAUJO, 2009, p.1).

 

Considerando os aspectos religiosos acima referidos, compreendemos que neles está implícito o momento ‘numinoso’, ou seja, o tempo do sagrado, aquele período em que o ser humano sente-se aberto a reconhecer a sua fragilidade e as alegrias da inteireza do seu ser. “A experiência do ‘numinoso’ designa o inexprimível, misterioso, tremendo, o ‘totalmente outro’, propriedade que possibilitaram a experiência imediata do divino” (JUNG, 2006, p.492).

 

Por sua vez Jung concluiu que, a religiosidade é uma função natural, inerente à psique e ao instinto; é um fenômeno genuíno. Segundo ele um grande número de práticas e rituais religiosos são os veículos para acelerar o processo do ‘numinoso’, nas mais diversas formas de manifestações sagradas do Cosmo. 

                  

De fato, os rituais religiosos, existentes na humanidade, representam a manifestação dos dogmas de cada religião existente, e estes são diferentes entre si, visto que a Bíblia original sofreu muitas traduções e não é possível traduzir palavras importantes sem distorcer os seus significados. De acordo com Radar Burnier (2009, p.29),“as escrituras têm uma autoridade duvidosa quando tomadas in Toto, mas  é afirmado às pessoas que as escrituras são autoridades completas, literais e inspiradas por Deus”. 

  

Até mesmo o protestantismo, repetimos, é obrigado a ser, pelo menos cristão e a expressar-se dentro do quadro de que Deus se revelou, em Cristo, o qual padeceu pela humanidade. E bem determinado este é um quadro, com conteúdos precisos, e não é possível ampliá-lo ou vinculá-lo a idéias e sentimentos budistas ou islâmicos. No entanto, sem dúvida alguma, não só Buda, Maomé, Confúcio ou Zaratustra, constituem fenômenos religiosos, mas igualmente Mitra[14], Cibele, Átis, Manes, Hermes e muitas outras religiões exóticas (JUNG, 2007, p.11).  

 

Então estes diferentes dogmas fizeram emergir os conflitos religiosos, visto que foram eles os conteúdos que persistiram na vida de Jung e ainda se tornam presentes no ‘existir’ da humanidade. Tais conflitos geravam várias concepções envolvendo a reencarnação. Somente algumas religiões, por exemplo, aquelas mais limitadas em compreender o Universo e suas vicissitudes, não querem considerar esta perspectiva e o que ela representa para os nossos dias.

 

Por isso, o tema reencarnação, é relegado a um segundo plano. Com exceção da doutrina Espírita, que defende a reencarnação da alma, porquanto considera que o ser humano tem plena consciência de que não pediu para habitar o planeta Terra, que não decidiu o seu nascimento e nem optou por ele. Entretanto, documentos históricos, sobre a doutrina Espírita atestam que o ser humano, desde o seu renascimento, é dotado de inteligência, vontade e parte integrante do Cosmo. Inserido na sua composição tríplice, enquanto espírito, alma e corpo físico (KARDEC, 2005).

  

As idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros não estavam claramente definidas, porque não tinham senão noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Eles acreditavam que um homem que viveu podia reviver, sem se inteirar com precisão da maneira pela qual o fato podia ocorrer; designavam pela palavra o que o espiritismo, mais judiciosamente chama reencarnação [...] A reencarnação é o retorno da alma, ou espírito, à vida corporal, mas em outro corpo novamente [...] ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo [...] O princípio da pluralidade das existências está claramente expresso nessas três versões acima mencionadas. Eu saio da minha casa, mas a ela retornarei (KARDEC, 2005, p.58-59).

 

Considerando o tema em pauta, Jung (1976) detectou cinco aspectos importantes do renascer, que segundo ele, poderiam ser multiplicados se quisesse aprofundar-se mais e detalhadamente. O primeiro aspecto refere-se à Metempsicose, a transmigração da alma que de acordo com as concepções Junguianas assim se resume. Trata-se da idéia de uma vida que se estende no tempo, passando por vários corpos ou das sequências de uma vida interrompida por diversas reencarnações. O Budismo, especialmente centrado nessa doutrina - o próprio Buda vivenciou uma longa séries de renascimentos - não tem certeza se a continuidade da personalidade é assegurada ou não; em outras palavras pode tratar-se apenas de uma continuidade kármica (JUNG, 2007 p.120).

 

O segundo aspecto envolve um conceito de continuidade pessoal, em que a personalidade fica susceptível de memória. Aquele renascer onde estão presentes os fatos e guardam aqueles contidos nos porões do inconsciente. Agrega ainda a condição de lembranças passadas, ricas de potencialidades, ao recordar de outras vidas, a mesma forma do eu da vida presente. Estes referenciais fenomenológicos são objetos das observações de Jung.

 

Neste caso a personalidade humana é considerada suscetível de continuidade e memória; temos ao reencarnar ou renascer, por assim dizer potencialmente, a condição de lembrar-nos de novo das vidas anteriores, que nos pertenceram, possuindo a mesma forma do eu da vida presente. Na reencarnação trata-se em geral de um renascimento em corpos humanos (JUNG, 2007, p.120). 

               

Por sua vez o cientista faz alusão ao terceiro aspecto da reencarnação, a qual está ligada à ressurreição (resurrectio), a que se apresenta como um ressurgimento do existir humano, após a sua morte e pontua categoricamente; “há aqui outro matiz, o da mutação, da transmutação ou transformação do ser” (JUNG, 2007, p.120).

 

O quarto aspecto, que envolve o renascimento, foi pontuado como aquele, que está afeto ao (sensu strictiori), o renascimento durante uma vida individual, com poderes para crescer e ser mais na escala evolutiva do existir humano. Neste sentido Jung se expressa: “O renascimento pode ser um renovatio sem modificação de ser, na medida em que a personalidade renovada não é alterada em sua essência, mas apenas em suas funções, partes da personalidade que podem ser curadas, fortalecidas ou melhoradas” (JUNG, 2007, p.120). 

 

No quinto aspecto Jung postula ser o renascimento indireto, aquele que diz respeito ao processo de transformação, como se o mesmo ocorresse fora do indivíduo. Uma participação em um rito de transformação, ocasião em que o indivíduo recebe uma graça, a qual pode ser até no ritual da missa em que opera a transubstanciação e ou nos mistérios pagãos. Portanto, o ser humano busca compreender sua origem, indagando-se: De onde eu vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que represento para o planeta Terra? 

 

O Ser Humano Versus Espiritualidade

 

Percebemos que as indagações, acima enumeradas, têm sido os questionamentos usuais que acompanham o ser humano nos seus relacionamentos com o Universo. Uma vez que o interesse e a curiosidade pela existência de seres sutis já vêm de longas datas. Nas civilizações mais antigas, por exemplo, foram encontrados registros com vários relatos sobre a espiritualidade que revelam a existência desses seres. Atualmente os aspectos religiosos destas crenças misturam-se e confundem-se numa tentativa de se fazer valer o autoconhecimento, o crescimento e o desenvolvimento espiritual, como ferramentas básicas das filosofias de vidas a seguir.

 

De acordo com o criador da psicologia de profundidade, “aeriformes” são seres que, de modo sutil habitam ao redor do homem e essas alegadas exercem influências, que embora invisíveis na sua essência, são consideradas poderosas. Essa crença é acompanhada das idéias de que esses seres são espíritos ou almas daqueles que já se foram. 

 

Em relação a estas crenças espirituais, o cientista enfatiza: 

 

Para o primitivo os fenômenos dos espíritos é uma evidência imediata da realidade do mundo espiritual. Se examinarmos de perto o que estes fenômenos dos espíritos significam para ele, e em que constituem, nos deparamos com os seguintes fatos: antes de tudo que a aparição dos espíritos não é rara entres os primitivos. Admitese, em geral que estas aparições são muito mais frequentes entre os primitivos do que entre os povos civilizados. (JUNG, 1991, p.311).

 

Segundo Jung o homem primitivo utilizou as crenças nos seres etéreos como arma para se guardar dos inimigos do agora e do Além. A dependência extremada nas crenças espirituais tornou o primitivo mais seguro no seu meio ambiente, nas tribulações de sua vida, cercado por vizinhanças hostis e feras perigosas. 

 

Baseado em suas concepções sobre o ‘existir’ homem primitivo, Jung (1991) pontua que esses seres dispõem de uma natureza que se apresenta impiedosa, acrescida pelos sentimentos descontrolados, apetites sensíveis e quase sempre expostos a estes reveses da sorte. Por outro lado, perante a sua realidade física, entende-se que o primitivo correu o risco de assumir uma atitude materialista. 

 

Neste sentido o cientista das causas profundas passou a atribuir ao homem primitivo, uma maior percepção da realidade espiritual, e então livrar-se dos laços que o prendem ao mundo físico e/ou puramente sensível e material. Ao modo de ver esta realidade, o autor, percebeu que o fenômeno dos espíritos na vida do primitivo, é acima de tudo, uma evidência. 

 

Em nossa pesquisa, identificamos nos documentos históricos que os povos primitivos viveram em dois mundos: o da realidade física e o da realidade sensível, isto é, no mundo dos espíritos, atribuindo a ambas o mesmo valor. O temor pelas crenças espirituais foi respeitado pelo homem primitivo, tanto quanto com relação às leis da natureza circundante. Para esses povos, o espírito deve ser exorcizado e sentem-se aliviado quando ele consegue realizar este processo no ato da sua passagem.

 

Diante destas considerações sobre o mundo dos espíritos Clarinha apreendeu em suas pesquisas que os primitivos têm versões diferentes dos civilizados no tocante às crenças espirituais. Para os primeiros, além de espíritos, existia a presença dos demônios elementares que nunca foram almas humanas. Enquanto que, para o homem civilizado, assim postula a sua visão científica: 

 

A aparição de espíritos não é rara entre os primitivos. Admite-se em geral, que estas aparições são muito mais frequentes entre os primitivos do que entre os povos civilizados, e daí se conclui que a aparição de espíritos é mera superstição, porque ela jamais ocorre entre pessoas esclarecidas, exceto em casos patológicos (JUNG, 1991, p.311).

 

Para o ser humano, estas crenças na espiritualidade, têm sido combatidas pelo racionalismo e iluminismo científico[15] há mais de um século. Esses movimentos foram direcionados às pessoas consideradas cultas e seriamente reprimidas por aceitarem e acreditarem em outras crenças metafísicas. Por este prisma é válido considerar a concepção do cientista.     

          

Na idade do materialismo esta inevitável consequência do Iluminismo racionalista há um ressurgimento da crença nos espíritos a nível superior, e isto não como uma recaída nas trevas da superstição, mas como um interesse científico intenso, como uma necessidade de iluminar o caos sombrio dos fatos duvidosos, com a luz da verdade (JUNG, 1991, p.309).

 

O renascimento e a renovação da crença dos espíritos tiveram como pesquisadores ilustres Willians Crookes[16] (1832-1902), Friedrich Myers17 (1843-1901), Alfred Russel Wallace18 (1832-1913) e Steven Zoellner19 (1834-1882) e muitos outros cientistas, considerados verdadeiros ícones do renascimento espiritual que é o renovamento da crença dos espíritos, no mundo.

  

Apesar dos questionamentos da natureza real das observações destes cientistas, ou seja, das acusações de erros e de ter cometido enganos nessas pesquisas, eles carregam sobre si o mérito das ações no campo da espiritualidade, pelo empenho e autoridade, pondo de lado qualquer temor pessoal.

 

No contexto geral das ações dos cientistas, acima mencionados, estiveram presentes críticas, prejuízos acadêmicos e o não temer do escárnio público, relacionado a estas ações na crença nos espíritos. Compreende-se que os pesquisadores se comportam no ato das suas pesquisas como no processo do acender de uma vela, que clareia o mundo e o universo. De conformidade com esta visão, uma concepção Junguiana:

 

Não sou filósofo, mas empirista, e por isto, em todas as questões difíceis, inclinome mais a deixar que a experiência decida. Mas onde não é possível, encontrar uma base empírica tangível prefere deixar a questão sem respostas. Por isto, o meu objetivo constante é reduzir os fatores abstratos a seu conteúdo empírico, para ter alguma certeza de conhecer também aquilo de que estou falando (JUNG, 1991, p.330).

 

A partir destas considerações científicas sobre a crença nos espíritos, entende-se que uma chama fora acessa, com a colaboração destes cientistas, acima referenciado, o tema da espiritualidade tornou-se um evento ‘iluminado’, i é, uma oportunidade de obter conteúdos profundos. Nestes aspectos convém refletirmos sobre estas concepções em epígrafe. 

  

Temos observado, ao invés, que justamente na idade do materialismo - esta inevitável consequência do Iluminismo racionalista - há um ressurgimento da crença nos espíritos a nível superior, e isto não como uma recaída nas trevas da superstição, mas como um interesse científico intenso como uma necessidade de iluminar o caos sombrio dos fatos duvidosos, com a luz da verdade [...] O pensamento dos eruditos sucumbe mais do que nunca à força da corrente materialista, foram eles que chamaram a atenção para os fenômenos de origem psíquica, que pareciam estar em completa contradição com o materialismo de sua época (JUNG, 1991, p.309-310).

 

17 Myers notável escritor dos fenômenos da espiritualidade.

18 Wallace, antropólogo, naturalista e biólogo do País de Gales.

19 Zoellner quis provar a existência da quarta essência.

 

Do ponto de vista psicológico os espíritos são considerados os complexos inconscientes autônomos que aparecem em formas de projeções e de modo geral, não estão associados diretamente ao eu. Já a crença na existência da alma, é um correlato da crença nos espíritos. Estes são considerados como seres estranhos e que não fazem parte do eu. 

 

Percebemos que o homem civilizado está em ritmo da evolução espiritual, ou seja, começa despertar na sua consciência, o que está latente nos porões do seu inconsciente. No caso, vislumbra a realidade de um mundo sutil. De qualquer forma, entendemos que as pesquisas paranormais contribuem para a existência destas crenças e caminham nesta direção a passos céleres. Todavia, parece que elas retomam os conteúdos dos conhecimentos dos povos primitivos sobre a existência dos espíritos, mas com uma diferença, no aguardo da comprovação do método científico para validar essas crenças. 

                                                                                                                                                

Concepções do Existir ao Longo da História

  

Os próximos tópicos estão direcionados às teses filosóficas[17] dos principais pensadores gregos, de alguns filósofos do século XX e de cientistas contemporâneos, cujas concepções estão relacionadas à existência humana. 

 

A idéia primordial destas buscas foi compreender quais as influências sofridas por nós, oriundas de antigos pensadores no espaço contemporâneo. Considerando que esses fragmentos de natureza surreal pontuam fenômenos, cujas interpretações fogem das normas estabelecidas pelas teorias do conhecimento. Eles foram associados à existência do sobrenatural e inseridos no bojo dessas mensagens - a magia das fadas, a existências de entidades ou demônios. Por outro lado, há de se convir que esses eventos sutis perduram até os nossos dias, cujas inferências são do conhecimento de todos, mas ainda carecem de uma nova concepção. 

 

As nossas pesquisas sobre a espiritualidade têm por objetivo, mostrar aos leitores e a comunidade científica que, desde longas datas o ser humano tinha uma inclinação para perscrutar os fenômenos sobrenaturais, cujo questionamento esteve afeto à espiritualidade e misticismo religioso. Nesta contextualização compreendemos que o curso dos acontecimentos, no ‘existir do ser humano’ tem em cada filósofo uma concepção individual no modo de sentir e perceber a humanidade como tal. Nas fases dessa evolução, esses pensadores elaboraram projetos e igualmente defenderam as suas teses relacionadas à existência de um Deus supremo e verdadeiro. Ficaram patentes as indagações sobre o ‘modo de existir’ das pessoas, se possuíam uma alma imortal, se refletiam sobre a natureza delas, ou se pensavam tão somente sobre os animais.

 

O Existir Segundo os Pensadores da Grécia Antiga 

 

Na história do ocidente, os filósofos da Grécia Antiga tinham a tarefa de interpretar os mistérios da existência humana, o que exigia abstinências, purificações, cânticos, danças, descrições mitológicas e expressões poéticas como registrado nos famosos dramas do teatro grego. 

 

Essas ações tinham conexões com os Deuses que faziam predições em locais apropriados e ganhava dos seus adeptos imensa reputação quando distribuíam as suas sabedorias. Estes seres, além de Mestres das predições em si mesmas, eram conhecidos como oráculos, e atuavam nos templos e/ou santuários que enquanto consagrados, eram locais de consultas e adoração de um deus profético. Os oráculos eram operados por sacerdotes que, possuídos, pelo Deus do oráculo, proferiam palavras que eram interpretadas pelo próprio sacerdote. Os oráculos são tidos como os primeiros experimentos parapsicológicos (CHAUI, 2002).

 

Os Gregos consideravam as consultas aos oráculos, verdadeiros fundamentos religiosos da sua cultura. Importantes ferramentas utilizadas pelos povos da época, os oráculos foram às armas divinatórias e sutis à disposição do ser pensante para, que este mesmo ser não mais se tornasse uma vítima tragada ou perseguida por ela. Para alguns místicos e pesquisadores do ramo, os oráculos simbolizam uma clara demonstração de sincronicidade, cuja definição inserimos na íntegra:

 

O sincronismo, enquanto expressão acausal mais simples relaciona as ocorrências simultâneas de dois ou mais eventos. São coincidências que ocorrem em nossa vida, i, é; no mundo de nossas percepções sensoriais [...] Quer dizer, não se trata de uma coincidência no tempo, e sim de uma simultaneidade relativa que deve ser assimilada como uma experiência subjetiva de uma imagem interna coincidindo com um evento externo (CAMPOS, 2008, p.1-2- 4).

 

Então, na Mitologia Grega, se faz presente a idéia de que o ser humano não é apenas um amontoado de reações químicas, orgânicas, físicas e extra-física. A Grécia Antiga foi o berço dos oráculos ao tempo que este povo representava ao homem comum as idéias e as sugestões para a arte de viver e de amar. Ora, para este povo antigo todas estas ações tinham importantes significados.  

   

A seguir apresentamos concepções e indagações dos filósofos gregos sobre o ser humano e o ‘existir’.

 

Segundo Ubaldo Nicola (2005), o filósofo Tales de Mileto (624-545 a.C) e seus discípulos, Anaximandro (610-547 a.C) e Anaxímenes (596-525 a.C), foram os primeiros pensadores a não recorrer a uma explicação mítica do princípio primordial, a arché princípio de tudo, e que deve ser identificado, para eles, na água. Tales concebeu em sua visão, a soma de todos os conhecimentos, de que tanto as sementes, quantos todos os alimentos têm dosagens de água, em suas composições. Através destas constatações, configuram-se as razões pelas quais todos os alimentos são úmidos.  

                                                                                                                                                                          

Outros filósofos foram muito mais além. Heráclito, (540-480 a.C), por exemplo, identificou a arché no Fogo, Pitágoras, no número, Platão e Aristóteles, na matéria.

             

Sócrates (470-399 a.C.), como Jesus Cristo, e outros profetas religiosos, nada escreveu sobre a sua vida. Alguns registros encontrados sobre os seus feitos filosóficos devem-se a Platão que, fez dele o protagonista de todas as suas concepções sobre a existência humana. Sócrates destacou-se na sua juventude pelo espírito corajoso, no enfrentamento da batalha de Potidéia. Foi um dos filósofos que discutiu as posições relativistas e cépticas dos sofistas[18]. Foi considerado um amante das ciências, mas mesmo assim, não fundou nenhuma escola. Preferiu exercer e exercitar as suas concepções filosóficas em plena praça pública. Dotado de grande poder de persuasão, Sócrates, foi considerado um desestabilizador e corruptor dos jovens. Não acreditava nos Deuses e aceitou, sem protestar, o seu fim último, a morte. 

 

Com o filósofo Platão (428-347 a.C.), ele discutiu assuntos científicos, incrivelmente coerentes um ser dotado de uma inteligência incomum, racional e rigoroso. Em seus inúmeros contatos, o tema discutido versava sobre as crenças fundamentais do ser humano, ao tempo em que o mais importante na vida de todo ser, é estimulá-lo a pensar e de modo consciente. Nas suas concepções, Sócrates defendeu a tese de que as pessoas, ao serem arguidas, tinham que transparecer o que se passa no seu íntimo, e por assim dizer foi um adepto da transparência (NICOLA, 2005).

                                                

Na sua tese sobre o ‘existir’, Sócrates deu ênfase ao diálogo, uma importante ferramenta nos relacionamentos da humanidade. E revelou que ninguém é mal voluntariamente. Para ele, o verdadeiro mal era uma grande oportunidade para o conhecimento do si mesmo, “a importância de saber que não se sabe” (NICOLA, 2005, p.12). 

 

Nas pesquisas sobre o ser humano, compreendemos que existiu entre Sócrates e Jung uma idéia de contemporaneidade. Como Jung, o filósofo também batalhou dentro das suas concepções pela internalização de um conhecimento interior e/ou subjetivo. Defendeu o diálogo acima de tudo para se exercer um real entendimento.  

                                                     

Por outro lado, concebemos que Platão (428-347 a.C) foi um Ateniense que deu margens a vários comentários sobre o seu ‘existir’ e, consequentemente à sua obra. De todos os filósofos da Grécia Antiga, Platão foi o mais estudado, e o mais pesquisado nos últimos milênios. E, por tudo isso, foi considerado um pensador de perene atualidade.

                                                                      

Dois fatos marcaram a vida do filósofo: o encontro com Sócrates, quando tinha 20 anos e na condenação dele à morte. Na Idade Média, foi considerado um precursor do Cristianismo e que emana uma espiritualidade ascética. Na sua concepção filosófica, o corpo é tudo o que ele significa ser: (percepção, paixão, instinto e emoção). Virtudes que não devem ser anuladas e, ainda pontuou que, somente assim, a razão pode ser exercitada.

 

Para Sobral (1999), Platão foi um filósofo que pressentiu na alma, tudo aquilo que tem condições de se mover, de modo particular, incorpórea, imaterial e imortal. Uma substância simples e dividida no seu interior por partes: a racional, quer dizer a parte que se localiza no cérebro; a irascível (ímpeto), localizada no peito e a concupiscível (apetite), no ventre. 

 

Nicola enfatiza que Platão considerou o fenômeno da metempsicose como um entrave que impede a alma realizar as suas funções plenas de ter uma natureza espiritual. Foi por este motivo que ele manteve o desejo de morrer, pois somado às suas concepções, o vivenciar do ‘seu morrer’, significa separar-se da prisão corpórea, visto que o corpo é o obstáculo ao conhecimento.

                                                       

Clarinha encontrou nas suas pesquisas fundamentos filosófico que dizem respeito às interações do ser humano nos seus contatos com as duas realidades, a inteligível e a sensível. O filósofo concebeu, na primeira idéia, que o ser humano interage de modo concreto igual a si mesmo e permanente; enquanto que na outra realidade, a interação é dependente e sofre mutações.Trata-se da realidade que diz respeito ao sentido “a idéia possui uma realidade própria em si mesma, é eterna e mutável, existe antes mesmo de ser pensada por uma mente” (NICOLA, 2005, p.48).

                                         

O que mais chamou a atenção de Clarinha foi o perfil psicológico de Aristóteles (384-322 a.C.), por transparecer e simbolizar a organização. Extremamente meticuloso em tudo que faz, registra, através dos seus conceitos, a sua intenção primordial de querer por ordem nos conceitos dos homens. Devido ao seu temperamento empreendedor, Aristóteles chegou a pensar que Platão tinha virado tudo de cabeça para baixo (JOSTEIN GAARDER[19], 1995, p.23).

                                                                                                                                                          

Existe uma diferenciação de pensamentos entre os dois filósofos. Para Platão, o grau máximo da realidade está no pensamento com a razão; enquanto que para Aristóteles, é tudo exatamente o contrário. “O que existe na alma humana nada mais é do que reflexos dos objetos da natureza” (GAARDER, 1995, p.123). 

                                                       

De acordo com Aristóteles, o filósofo Platão foi uma espécie de prisioneiro da sua própria visão mítica do mundo e confundia as idéias do mundo com as dos homens. Nas formas pensamentos do projeto de Aristóteles, ele agiu diferente. Procurou colocar ordem na vida e dividiu a natureza em dois sentidos. Aquela das coisas inanimadas, como as pedras, gotas de água e torrões de terra. E, das criaturas vivas que, carregam na sua bagagem pessoal (dentro de si mesmo), potencialidades de transformações. Assim, soma à sua visão de mundo que, a natureza progride das coisas consideradas inanimadas em direção às criaturas vivas “somente a memória, torna possível a experiência” (NICOLA, 2005, p.86).     

                                

As concepções de Aristóteles, assim se resumem, e se ele fosse vivo Clarinha entendeu que o filósofo diria a um ser humano exatamente isso: “A vida de uma pessoa que só cultiva o corpo é tão unilateral e, portanto, tão lacunosa quanto à vida de outra que só usa a cabeça. Ambos os extremos são expressões de um modo errado de viver a vida” (GAARDER, 1995, p.131).

 

Dando continuidade às nossas pesquisas sobre os pensadores da Grécia Antiga, descobrimos em Pitágoras (570- 49 a.C) um grande místico e para muitos historiadores da ciência, o pai da tradição científica européia. Ele propôs uma filosofia de purificação espiritual que descreveria o destino sagrado da alma e a possibilidade de sua elevação de modo a unir-se ao divino. Era uma filosofia de natureza mística porquanto expressava a evolução harmoniosa da alma na humanidade. O aspecto interessante na sua filosofia é que, para representar as relações entre as coisas, ele usou os números, atribuindo-lhes propriedades qualitativas, análogas às diferenças de qualidade encontradas em harmonias musicais. Desta maneira, os números foram vistos como um princípio que conecta as propriedades simbólicas da mente, aos mecanismos do universo (CAMPOS, 2008).

 

Uma das idéias de maior sucesso histórico de Pitágoras é a de que os astros produzem no seu movimento uma música perfeita e divina, no mundo literalmente celestial. Se não conseguirmos ouvi-la, é somente por causa do fenômeno psicológico que faz com que um som contínuo torne-se despercebido pela consciência perceptiva (NICOLA, 2005, p.23). 

 

Através do naturalista grego Teofrasto (372-287 a.C) concebia que, em suas teorias o “supras sensível” e o “sensível”, estão unidos pela divindade (Deus). Enquanto na concepção do filósofo Plotino (204-270 d.C), é que essa união só pode realizar-se mediante um processo de profunda entrega ao que ele denominou de um estado de êxtase no qual a alma transcende à sua própria existência para dilui-se na divindade (IDEM, 2008).

 

Após este breve panorama sobre os filósofos da Grécia Antiga compreendemos que estes pensadores dedicaram suas vidas na tentativa de entrar nos labirintos da nossa alma e de perscrutar o nível evolutivo a partir do qual tudo começou.

 

Concepções Sobre a Natureza Humana 

 

No Egito, a fonte para a compreensão do ser humano parece ter sido inspirada na tradição mística hermética. O deus grego da comunicação Hermes foi designado como Hermes Trimegistus (três vezes grande) sob um sincretismo como o deus Thoth, o deus egípcio, patrono da Sabedoria, da Astrologia e da Alquimia, o criador das artes e das ciências. É reconhecido, também, como o pai da Alquimia Ocidental.

 

Os alquimistas por sua vez buscavam adentrar no reino do desconhecido associando o seu mundo aos frutos da sua obra a opus alchimica. Para eles, a mente é fonte e depositário dos reflexos do universo mais amplo, percebidas em imagens simbolizas de incomensurável riqueza. Quer dizer é o mundo interior e o mundo exterior; í é; a mente e a matéria estão sob a mesma unidade indiferenciada. Essas concepções alquímicas de unicidade foram denominadas de‘unus mundus’ por Gerhard Dorn, expressa “o mundo potencial do primeiro dia da criação quando não havia in actu, í, é; dividido em dois ou mais, quando não ainda era uno. Um mundo onde não há dualidades ou divisões (CAMPOS, 2008, p.1).

 

Para os alquimistas ficava subtendida a relação íntima entre o “experimentador e o seu experimento”, acreditavam que o mundo das suas experimentações estava conectado ao “mundo do cosmos”. Na tentativa de desvendar mistérios do Universo ela combinava aspectos físicos (material), igualmente ao aspecto psíquico sem, todavia, fazer qualquer divisão entre os mesmos.

 

O mundo dos alquimistas pode ser tomado como um guia para analisar o comportamento da mente, embora careça de soluções objetivas para os conflitos inerentes à nossa própria existência. Isolados em suas atividades que envolvia tanto uma exploração externa quanto interna da sua personalidade, os alquimistas não diferenciavam o mundo da matéria daquele da mente e, deste modo trataram as operações físicas e as mentais sobre um mesmo contexto (CAMPOS, 2009, p.2728).

 

 Na obra Junguiana a Alquimia teve significados importantes definindo-a como: “Química arcaica que precedeu a química experimental e onde se mesclavam especulações gerais figuradas e intuitivas, parcialmente religiosas, a respeito da natureza e do homem” (JUNG, 2006, p.482).

 

Na tradição chinesa, o Tao Te Ching, é a fonte de profundo e significativo conhecimento sobre o ser humano: “o Tao que pode ser escrito em palavras, não é o Tao eterno”. A prática desta filosofia é o Wu-wei, que ensina a não-interferência, a não-ação, a ação sem realização, a atividade sem ação e outras designações. Isto não quer dizer que não se deve agir, e sim que existe um fluxo natural que guia as mudanças sempre ajustando cada pessoa às circunstancias. Todo esse processo é originado e alimentado por uma energia Qi, que se apresenta como o produto de duas grandes forças yin e yang, fluindo por todo o universo (CAMPOS, 2008). 

 

A Visão do Ser Humano em Pleno Século XX

 

No existir humano ocorrem problemas e dificuldades em relação às suas buscas pelo autoconhecimento e evolução espiritual. Todavia este movimento do ‘ir’ e do ‘vir’ do seu modo ‘de agir e de pensar’ traz, de certa forma, subsídios para novas experiências, novos conhecimentos e novas concepções científicas, do ‘existir. A partir daí é que o ser humano passa a construir a sua própria vida o seu ‘por vir’ para fazer as suas escolhas e optar por aquilo que lhe traz felicidades.

 

Quando pesquisamos os fundamentos norteadores da existência humana neste século concluímos: O fato do ‘existir’ nos leva a entender e compreender de modo correto e integral que o homem não nasceu para viver sozinho, isto porque somos uma ‘tarefa inacabada’ que precisa ser burilada e concluída.                

 

De acordo com as concepções acima referendadas entendemos que o filósofo Kierkegaard (apud Nicola, 2005), se refere ao ‘existir’ humano considerando que, uma maneira de sair desse sistema sufocante está em reivindicar, a ‘singularidade’ como única alternativa. Todo indivíduo na sua complexidade original, irredutível a qualquer modelo, constitui a contestação viva de todo sistema. Porque a existência corresponde à realidade singular, e ao homem singular. Para uma planta singular, ou um animal singular, ‘ser ou não ser’ é algo decisivo.

  

Como Jung, filho de um pastor sem fé no que pregava e que lhe causava terríveis conflitos íntimos, também a vida de Kierkegaard foi marcada por vários questionamentos existenciais, principalmente na área da religiosidade. Os conflitos foram mais presentes em relação ao seu pai, um fanático pastor cujas concepções religiosas geravam constantes atritos com ele. Diante de tantas blasfêmias sobre a religiosidade, o filósofo desistiu de um confrontamento com a figura paterna e a sua vida ficou pontuada de um extremo vazio. E, se expressou em algum momento do seu existir:

 

“A Filosofia como mortificante e ascética meditação introspectiva sobre os temas do nada, da angústia, da fé e do significado da existência” (NICOLA, 2005, p.381).

 

Por sua vez neste pensar científico, Schopenhauer em suas concepções filosóficas nos coloca em sintonia com o ‘existir’ humano. Defende o exercício do silêncio, do jejum e da causalidade. E, igualmente, defende a renúncia sistemática, a fuga temporária da realidade, por meio da arte ou de práticas orientais de meditação, para que o ser humano possa entrar em contato com as suas vicissitudes, e observa:   

 

O problema: É possível viver sem experimentar o sofrimento? Existe alguma possibilidade de aniquilar a vontade de viver que domine angustiadamente a existência?

A Tese: A vontade de viver condiciona todos os aspectos da existência, produzindo alternadamente sofrimento ou tédio. E posto que o instinto de sobrevivência esteja destinado ao fracasso (porque todo ser vivente deve morrer), não existe saída para essa dor universal. A única possibilidade de aplicar de algum modo a infelicidade construtiva da existência está em combater a vontade de viver com o exercício de uma oposta não-vontade ou nolontade (NICOLA, 2005, p.378).

  

Por outro lado, Pascal concebia o Universo, como uma esfera infinita cujo centro dela estava em toda parte e, a circunferência em nenhum lugar. O filósofo excluiu, em sua tese, a possibilidade de demonstrar a presença de Deus, por meio de argumentos. Somente a partir da verdade do ser, pode-se pensar na essência da divindade, pode-se pensar e dizer o que a palavra Deus pretende significar (NICOLA, 2005).

 

E, de acordo com a sua visão de mundo, uma das suas concepções:

 

O Problema: O que define a natureza do ser humano? A Tese: O destino do homem consiste na mediania. As proporções do seu corpo tornam-no capaz de compreender a imensidão do universo e de ver os inúmeros mundos que existem em cada minúscula partícula da matéria. Da mesma forma, a psique não consegue conhecer a noção de tudo e a noção do nada; não é anjo e nem besta. Pascal condena tanto a visão otimista da realidade quanto qualquer subestimação pessimista, defendendo a tese do realismo trágico: o homem é uma estranha mescla de louvável grandeza e reprovável miséria, um paradoxo lógico, um monstro incompreensível até para si mesmo (NICOLA, 2005, p.247).           

 

Diante de todos estes diálogos pelos ‘caminhos do existir’, das inúmeras observações e/ou indagações sobre o ser humano, igualmente sobre as questões filosóficas, que permeiam todas as escalas da existência, como Jung, Pascal, Kierkegaard e Schopenhauer vivenciaram momentos de preocupações com os processos que levam o ser humano à sua totalidade máxima. 

 

Nesta visão de mundo a expressão de uns pioneiros e promotores do diálogo entre a ciência e a espiritualidade: Em outros tempos e civilizações, esse caminho de transformação espiritual foi restrito a um número relativamente limitado de pessoas; agora, no entanto, se quiser preservar o mundo dos perigos internos e externos que o ameaçam, uma grande porção da raça humana deve procurar o caminho da sabedoria. Neste tempo de violência e desintegração, a visão espiritual não é um luxo elitista, mas algo vital para a nossa sobrevivência (SOGJAL RINPOCHE, 2007, p.172).

 

Foi desta forma que descobrimos a importância da Filosofia para a criação da história da humanidade e sobre a origem das coisas, visto que, a maioria dos seres humanos ainda acredita que tudo surgiu do ‘nada’. Os filósofos conceberam, no ato da elaboração das suas teses, que sempre existiu alguma coisa que definiu o ‘existir humano’ e que isto precisa ser revelado a toda humanidade. 

 

Inferências sobre a Consciência dos Pensadores Contemporâneos 

 

Neste tópico iremos analisar de que forma alguns teóricos concebem a consciência do ser humano. A noção desta consciência torna-se uma vertente de suma importância no âmbito do sagrado e necessariamente deve ser respeitada e refletida por cada um de nós, enquanto parte integrante da existência humana intrinsecamente ligada ao cosmo.

 

Na íntegra esta concepção sobre o existir humano: “Estou à procura da minha consciência, não tenho direito a minha consciência? (AMIT GOSWANI, 2007, p.19).

    

Por sua vez, Ken Wilber (1996) pontua que, o ser humano aspira ao longo da sua existência o encontro de si mesmo, bem como, o desejo de revolucionar a síntese da condição humana para trilhar também pelos caminhos de um ‘existir’ consciente e sagrado. Entendemos que suas buscas dizem respeito ao conhecimento e a integração de toda a humanidade. Para ele o ser humano é definido como um ‘ser’ que é dotado de inteligência e vontade e merece algumas considerações sobre estes dois valores que são universais.

 

Considerado um dos grandes pensadores da atualidade, Wilber sugere a síntese pela totalidade da condição humana, na trilha da ciência, do saber científico e da espiritualidade. No contexto geral de tudo que o escritor pensa e expressa, está explicito na competição entre os sexos, movimentos liberais modernos, e acima de tudo as abordagens desta e de outras dimensões, em relação à espiritualidade e as quintessências do ‘existir’. E enfatiza:

                                

O ser humano, quando nasce, ainda não está socializado em nenhum sistema moral - ele é ‘pré-convencional’. Em seguida, aprende um esquema moral geral que representa os valores básicos da sociedade onde vive-ele se torna ‘convencional’. Com o crescimento ainda maior, o indivíduo pode vir a refletir sobre sua sociedade e ficar, assim, um pouco distante dela, tornando-se capaz de fazer críticas ou reformulações - o indivíduo passou a ser, até certo ponto, ‘pósconvencional’(WILBER, 1996, p.36).                             

                                  

Quando lemos seus textos, percebemos que os movimentos do autor pelas buscas da espiritualidade, datam de 1989, trabalhando com um grande número de psicólogos, médicos, filósofo e místicos. Para Wilber, o seu argumento principal é perscrutar o ser humano em toda sua vastidão e completude universal, por meio de dois caminhos, o do plano físico e espiritual.     

      

Em relação ao caminho da espiritualidade o físico Goswani (2007) sugere, ao seu leitor, elevar e estimular através de suas mensagens interiores e/ou subjetivas a lidar melhor com os conceitos da consciência humana, a ponto de querer elevá-la aos graus de uma plena e total evolução espiritual. E adverte que tudo que existe e se movimenta no cosmo é gerado pela consciência, quer dizer, tudo é transcendental fora do espaço/tempo. Sugere a interação constante entre a mente, o espírito e a ciência.                       

            

Clarinha nos chama atenção para refletirmos sobre os instantes em que somos assolados pelas perdas da nossa essência e paulatinamente, da nossa consciência pelo viés do ‘existir’. A mensagem deixada pelo físico quando elaborou os seus escritos, significa um verdadeiro chamamento para a interiorização divina do nosso ser, bem como, para buscar e encontrar a nossa consciência perdida. 

                             

A partir de então Stanislav Grof (2007) trouxe para o mundo contemporâneo a respiração holotrópica, baseada nas suas próprias experiências com o LSD e criou uma técnica alternativa de cura através da expansão da consciência. Segundo ele as pessoas que se submetem às técnicas alternativas expandem suas consciências, transmutando, transcendendo e sintonizando com os mistérios da vida, e consequentemente com o Absoluto e pontua.

 

Nos estados holotrópicos ocorre uma mudança qualitativa de consciência de forma profunda e fundamental que não sofre danos como ocorre nas condições de causa orgânica. Tipicamente permanecemos completamente orientados em termos de espaço e tempo, não perdemos totalmente o contato com a realidade diária. Ao mesmo tempo, o nosso campo de consciência é invadido por conteúdos de outras dimensões da existência que podem ser mais intensos e até mesmo avassaladores (GROF, 2007, p.22).

 

Contatamos que o tema da consciência move muitos teóricos a pesquisar, refletir e avançar, neste campo sutil. Percebemos um avanço com as contribuições da Psicologia Transpessoal sobre a consciência e as maneiras que podemos transcendê-la. 

 

Neste capítulo, queremos nortear de que forma o ser humano busca sintonizar com o Absoluto, seja na Grécia Antiga e em outras civilizações. Esta pesquisa serviu para compreendemos as vicissitudes do ser humano e consequentemente a fenomenologia paranormal pelo viés da existência.

 

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